
Se não fosse a pandemia do coronavírus, o Goiás estaria hoje numa situação privilegiada. O clube goiano está entre os nove que bateram recorde de faturamento em 2019, junto com Athlético/PR, Atlético/MG, Bahia, Ceará, Flamengo, Fortaleza, Internacional e Santos. (Veja no gráfico no final da matéria). Flamengo e Palmeiras tiveram as maiores receitas.
Não muito depois que a pandemia da Covid-19 começou, o Goiás foi atingido pela suspensão de repasses e também pela não renovação de patrocínios importantes. Nas contas preliminares do presidente Marcelo Almeida, cerca de R$ 1 milhão seria desperdiçado.
A paralisação dos campeonatos ainda afeta o clube em duas vertentes: pagamentos da Globo pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro ainda não começaram, e as bilheterias devem ser fortemente atingidas pelo provável recomeço com portões fechados.
Ou seja, o clube esmeraldino passa por um período desafiador, bem como todos os outros clubes de futebol no Brasil. A boa notícia é que, diferente da maioria, o Goiás estava razoavelmente tranquilo até 2019.
Não são todos os dirigentes que, como Marcelo Almeida, podem olhar para o gráfico abaixo e encontrar um faturamento duas vezes maior do que o endividamento. Em outras palavras, a soma de todas as receitas na temporada supera a quantidade de compromissos.
A má notícia é que transferências de jogadores renderam menos. Na verdade, quase nada. Michael teve seus direitos vendidos para o Flamengo somente em janeiro de 2020, portanto não foi contabilizado.
A boa notícia é que a participação da torcida aumentou. Bilheterias subiram R$ 5 milhões, mensalidades de associados aumentaram R$ 2 milhões, e assim o que se entende nesta análise por “torcida e estádio” compensou o decréscimo na venda de jogadores.
Os direitos de transmissão também elevaram. O Goiás se beneficiou da nova fórmula de distribuição do dinheiro da tevê. Ainda que não tenha um pay-per-view forte, o equilíbrio das cotas aberta e fechada é positivo para clubes do porte financeiro esmeraldino.
Nas despesas, o Goiás pôde elevar um pouco as ambições. A folha salarial aumentou em cerca de R$ 10 milhões, na comparação com o ano anterior, e outros gastos também subiram. Mas a conta continuou a fechar no azul – com pequeno e correto superavit de R$ 3 milhões.
Nesse sentido, o desafio alviverde é continuar a aumentar seu gasto com jogadores de maneira consistente e equilibrada. Os R$ 48 milhões ainda o colocam entre as últimas posições da primeira divisão em termos de folha. Enquanto as contas estiverem sendo pagas, estará tudo certo.
Há uma particularidade que ajuda a entender o endividamento, já mudando de assunto. O Goiás é um dos poucos clubes que, nos últimos anos, acumulou uma “poupança”. O dinheiro entrou na renegociação mais recente dos direitos de transmissão, em 2016, e vem sendo usado para investimentos no futebol e para manter a casa em ordem.
- R$ 38 milhões em caixa e aplicações financeiras em 2016
- R$ 31 milhões em caixa e aplicações financeiras em 2017
- R$ 19 milhões em caixa e aplicações financeiras em 2018
- R$ 10 milhões em caixa e aplicações financeiras em 2019
Reservas financeiras são palavras raras no futebol. E elas se tornam especialmente úteis no momento em que um imprevisto de escala global, como a pandemia do coronavírus, atinge todo mundo.
O método do GloboEsporte.com é muito simples para cálculo de dívida: tudo o que precisará ser pago em dinheiro, menos o que está em caixa ou aplicações com liquidez imediata (para sacar quando quiser).
É por isso que o endividamento vem “subindo” nos últimos anos, conforme os gráficos acima. Na verdade, as dívidas estão estáveis na casa dos R$ 50 milhões há muitos anos. Acontece que a “poupança” vem sendo usada aos poucos. Conforme o dinheiro guardado diminui, precisará haver outra fonte para pagar os compromissos.
A maior parte do endividamento esmeraldino está equacionada pelo Profut, parcelamento do governo federal que permitiu esticar em até 20 anos os pagamentos de impostos não pagos no passado.
O Goiás não é um clube que pega dinheiro emprestado com banco, nem que compra por valores altos os direitos de jogadores.